“Sou um ser humano muito melhor hoje. Não choro pelo que menos importa. Os cabelos já se foram três vezes. Mas já estão de volta e eu estou de pé. Dou importância ao instante. Ao agora”, Sandra Gonçalves

“Eu descobri um ‘carocinho’ na minha mama direita em 2009. Fui ao médico e ele me disse que não tinha textura de tumor – que era leite empedrado e pediria exame por ‘desencargo de consciência. Como estava difícil de agendar os exames, acabei não fazendo. E o ‘carocinho’ cresceu. Preocupada, fui a uma ginecologista – ela disse que era coisa da minha cabeça e nada foi feito para descobrir do que se tratava.

Em 2012 fui a outra ginecologista – essa me disse que eu estava procurando doença. Larguei mão. Devia ser mesmo coisa da minha cabeça, afinal três médicos já haviam dito isto. “Relaxa, Sandra. Deixa de ser maluca, não é???”, pensei.

No final de 2013, meu médico pediu que eu fizesse papanicolau e passasse na ginecologista antes de voltar nele. Nesta época eu já havia percebido que o nódulo estava grande, a ponto de deformar minha mama.

Fui fazer o papanicolau e a enfermeira que colheu o material me perguntou sobre o auto exame. Contei-lhe sobre os episódios e ela, boquiaberta, me disse para voltar no dia seguinte. Voltei e ela me deu uma guia para fazer mamografia. Durante o exame, a técnica me perguntou porque estava fazendo. Contei, ela me examinou e sentiu o nódulo. E já adiantou uma imagem de compressão exatamente no lugar do nódulo.

Em 31 de Outubro de 2013 peguei o resultado: “Achados mamográficos altamente suspeitos”.

Fui direto para o posto de saúde. Cheguei lá chorando. A enfermeira chefe foi chamada e me levou para conversarmos em sua sala; perguntou o motivo do choro e eu comentei que tenho histórico familiar e que, para mim, aquele resultado era um diagnóstico.

Ela marcou consulta ginecológica para mim para a quarta feira seguinte. Cheguei ao posto e o médico havia sido transferido – estava apenas arrumando seus pertences. Mesmo assim, como a enfermeira levou meus exames para ele olhar, o médico preencheu encaminhamento para o mastologista.

A guia ficou no posto para que a consulta fosse agendada. Assim que cheguei em casa, o telefone já tocava. Atendi e era do posto, avisando que na segunda-feira seguinte eu tinha consulta no CARE do Hospital Pérola Byington.

Fui recebida por uma equipe de mastologia e diante da indignação do médico da situação do tumor, expliquei que não tive culpa, que não fui ouvida. No mesmo dia fiz biópsia guiada por ultrassom e já durante o exame, depois de ver a cor dos fragmentos coletados, o médico preencheu as guias de exames pré-operatórios. Questionei e ele avisou que independentemente do resultado da biópsia, eu seria submetida a uma cirurgia.

Em fevereiro de 2014 fiz uma quadrantectomia para retirar o nódulo, que estava encapsulado.

Quando voltei da cirurgia, criei minha página pessoal para falar do dia a dia do diagnóstico e a chamei de “Vivendo com Câncer – Diário de Bordo”. Ali eu colocava tudo o que acontecia, resultados de exame, efeitos colaterais da quimioterapia, como eu reagia a tudo isso. A princípio era só um diário mesmo. Depois comecei a ler, pesquisar e a postar informações sobre o câncer de mama.

Fui encaminhada para a Oncologia e lá prescreveram 8 sessões de quimioterapia.

Durante esse processo, Graças a Deus eu encontrei meu anjo da guarda: a drª Samira Belloni. Costumo dizer que é a melhor parceria da minha vida!!!

Fiz 28 sessões de radioterapia que me renderam queimaduras de 3 graus.

Uffa… Tinha acabado. Era o que eu achava…

Iniciei o uso de medicamento para me proteger de outros focos de câncer. Como o diagnóstico familiar com câncer é muito expressivo, minha médica passou a fazer rastreios periódicos.

Num desses rastreios descobrimos, em fevereiro de 2016, a metástase óssea na coluna dorsal. Começamos no mesmo dia o tratamento para calcificar as lesões – segui com aplicações mensais por quinze meses e agora trimestrais. Mudamos a medicação de bloqueio, que infelizmente não bloqueou devidamente o câncer.

Em 2016, entrei num grupo de WhatsApp para mulheres com câncer. Pensei várias vezes em sair de lá… Mas um belo dia, quando dei um pouquinho de atenção às conversas, acabei fazendo Amigas!!!! Sou muito Krika!!! E em pouco tempo a administradora desistiu do grupo, pois eu alfinetava as informações erradas que ela dava. Ela saiu, mas deixou três de nós como administradoras – e eu era uma delas.

Deixei o grupo com a minha cara… Rsrsrsrsrsrs Coloquei minha oncologista, amigas da área da saúde, advogadas, dentistas, psicólogas e dei o nome de Amigas do Destino. Enfim… Temos um grupo para discutirmos tudo o que envolva o câncer, seu diagnóstico e tratamento. Bem como lançamento de medicamentos novos e legislação que nos favoreça.

Em 2017, enquanto eu lançava meu projeto Apaixone-Se por Si, para resgatar a autoestima de pacientes oncológicas, estava também fazendo os exames de rastreio. Descobrimos uma reincidência na mesma mama. Fui submetida em dezembro do mesmo ano a uma mastectomia radical com esvaziamento axilar.

Fiz novamente as quimioterapias, desta vez nove sessões. Há exatamente um mês iniciei terapia de bloqueio.

Nem preciso dizer que minha vida virou do avesso, não é??? Mas, apesar de tudo, sou um ser humano muito melhor hoje. Dou importância ao instante. Ao agora.

Não choro pelo que menos importa. Os cabelos já se foram três vezes. Mas já estão de volta e eu estou de pé. Embora não retorne às minhas atividades, uma vez que estou aposentada há seis meses por conta do diagnóstico, tenho ocupado meu tempo a passar informações a respeito de câncer, rastreio e detecção precoce em minhas redes sociais.

Hoje, depois de ter passado por tudo isso, perdido meu amado pai e muitas amigas queridas para o monstro câncer, tenho procurado instruir-me e capacitar-me cada vez mais, participando de congressos, fóruns de discussão, dentre outros canais de informações.

Percebo que apesar de o assunto estar direto em pauta nas mídias e nas redes sociais, ainda é alarmante o número de pessoas que chegam aos serviços de saúde com o diagnóstico avançado e com muito pouco a ser feito. Por pura falta de informação.

Tenho ido a escolas, universidades, hospitais, empresas e onde mais me chamam para falar de câncer e, principalmente, contar minha história. Para que as mulheres entendam que se perceberem alguma anomalia, precisam procurar ajuda médica. E fazerem-se ser ouvidas.

Continuo engajada em promover eventos de conscientização, rastreio e detecção precoce. Afinal, sou uma educadora e não posso levar essa experiência toda embora comigo.

Meu objetivo de vida atualmente é mostrar para as mulheres diagnosticadas que são lindas. E são lindas mesmo carecas, gordinhas, sem cílios, sem sobrancelhas. E que a única preocupação que devem ter é vencer o dia de hoje.

Esta é a minha história e meu nome é Sandra Gonçalves. Sou pianista, mãe, professora aposentada, paciente oncológica e palestrante”.

A Sandra te espera para uma visita no blog dela: só clicar aqui.

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