Esperança-20

Era uma tarde de domingo.

E então, contrariando o poetinha,

do pranto fez-se o riso.

Onde havia distância,

fez-se o abraço.

Naquele canto em que a tristeza se instalara,

brotaram jasmins.

Já não havia mais perigo

nem incertezas

ou reprovação.

Era o fim da respiração pesada,

do vírus espalhado no ar.

Portas fechadas se abriram

e o medo, desperto, adormeceu.

De cheiro de terra molhada

grama fresca e rosas brotando

a casa se encheu.

O gosto na boca não era mais amargo fel,

mas sabor de infância:

algodão-doce com maçã-do-amor.

O mundo era o mesmo, mas era outro.

A vida era nova e muito melhor.

Fiat lux e num piscar

a bruma se iluminou

porque em uma tarde de domingo,

na varanda do sétimo andar

no prédio cinza da praça central

com todo seu coração

ela acreditou.

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