Culpa, medo de não ser capaz, receio de não ser boa mãe. Temor de não ser sequer suficiente e não saber o que fazer. Se existe alguma mãe que nunca sentiu algum desses sentimentos ou suas variações, desconheço. Eles também estão todos diante de nós na série Workin’ Moms (@Netflix. Não gosto da tradução Supermães).
Grande parte das situações que as personagens vivem na tela eu já vivenciei há mais de 20 anos – ainda posso me considerar privilegiada, porque tive a sorte de contar com minha mãe para ficar com meu filho pequeno, mas infelizmente nem todas têm esse privilégio e tampouco ele nos exime da responsabilidade e culpa; pode até amenizar, mas não elimina.
Não são poucas as situações que uma mãe que trabalha fora precisa superar. Deixar o bebê febril em casa para um compromisso de trabalho; largar tudo e voltar correndo para casa porque a febre aumentou. A eterna dúvida de saber quando é melhor nem ir, porque terá que voltar. Se houvesse bola de cristal… Dar entrada no pronto-socorro com o filho doente e só sair com ele uma semana depois, indiferente ao que o chefe, os superiores ou o dono da empresa vá achar.
Chorar no banheiro do escritório porque não pode ficar em casa quando ele está com uma gripe. Chorar no corredor, na esquina, no transporte público. Sentir até uma lágrima cair quando abaixa para pegar a caneta que derrubou propositalmente para disfarçar o choro que sente chegar. Não chorar porque está esgotada demais até para isso. Não dormir para medir a febre de hora em hora e ir direto ao trabalho. Não comer porque a comida simplesmente ‘não desce’.
Tentar ser mulher, mãe, profissional sem se sentir soterrada por todo peso do mundo.
A série consegue abordar tudo isso – e muito mais – sem pesar. Trata de aborto, depressão pós-parto, crise no casamento pós-filho, dificuldade de criar vínculos com os filhos, e por aí vai.
Kate, Anne, Frankie, Janny. A cada episódio elas resistem bravamente aos olhares acusadores, aos julgamentos, às opiniões que chegam sem ninguém pedir. Vejo a mim, a muitas amigas, parentes, colegas resistindo como elas, com elas, como nós.
Vivemos rupturas, quebras e decepções. Quando Kate dorme dentro do berço do filho, sinto que me aninho ali com ela, bem próximo à minha cria para que estejamos em uma fortaleza protegida do mundo.
Ver essas verdades tão nossas na série dá uma consciência maior de que é uma verdade de tantas outras mulheres, seja aqui ou no Canadá, onde se passa a história, ou em qualquer outro lugar em que haja uma mãe. Ajuda-me a lembrar que não estou sozinha, nunca estive nem nunca estarei, pois tenho tantas mulheres comigo e em mim: minha mãe, minha irmã, minhas tias e primas, parentes próximas e distantes, amigas. Eu me revejo como mãe recente em Workin’ Moms e revivo minha trajetória. Vivenciando a história que é um pouco de tantas mulheres, eu me reconcilio comigo mesma.
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